ESTÉTICA E RECEPÇÃO: PERSPECTIVAS DA HISTÓRIA DA CULTURA
Esta indagação permite verificar que a recepção de uma obra artística está em sintonia tanto com a tradição cultural e estética, quanto com as circunstâncias do momento em que o trabalho é veiculado. Nesse sentido, a atualidade do objeto artístico não é, por si só, garantia de um diálogo imediato, pois no trabalho do Oficina e no da Companhia dos Atores, em que pesem as diferenças entre as montagens, a qualidade estética e a intenção de dialogar com os espectadores permaneceram. Porém, o que justifica os distintos graus de recepção? Uma das respostas mais efetivas diz respeito aos temas e idéias que cada um dos trabalhos conseguiu mobilizar em torno de si.
A partir destas considerações, é importante concluir que o impacto de determinados espetáculos, realizados pelo Arena e pelo Oficina, na conjuntura brasileira da década de 1960, explica-se, em grande parte, pela recepção e pelos debates suscitados por eles. A partir desta constatação, questiona-se: quais as perspectivas da relação entre processo histórico e a recepção estética? A estudiosa Karlheinz Stierle, ao se deparar com este tema, observou:
A auto-reflexividade da ficção não implica a sua autonomia quanto ao mundo real. O mundo da ficção e o mundo real se coordenam reciprocamente: o mundo se mostra como horizonte da ficção, a ficção, como horizonte do mundo. O âmbito da recepção dos textos ficcionais demarca-se na apreensão desta dupla perspectiva.
Já
do fato de que a ficção, pela maneira com emprega a linguagem, se movimente no horizonte da experiência possível – não importa o quanto assim se afasta da realidade a nós acessível – se infere que o mundo, como horizonte da ficção, literalmente a pré-orienta. Os alinhamentos (Fluchtlinien) da ficção e de seu mundo sempre convergem em uma experiência do mundo. Este é o pressuposto básico posto em jogo pelo receptor, mesmo quando a ficção se mostra por completo esquiva àquela experiência. Se tudo na ficção fosse, em princípio, diverso de nossa experiência da realidade, ela não mais se relacionaria a um conceito de realidade e assim não seria nem verbalmente articulável, nem constituível na recepção. Exatamente por isso, contudo, parece problemático o conceito de ‘campo de referência ficcional’que Anderegg, em Fiktion und Kommnikation, contrapõe ao campo de referência do leitor. Pois, se o próprio texto ficcional é, de fato, o campo de referência imediato de suas partes, entretanto, tal campo não conduz a um campo de referência ficcional – que não é relacionável ao campo de referência do leitor – mas sim leva a um campo de referência posto em jogo pelo leitor. Para Anderegg, o campo de referência ficcional da ficção não é ela mesma, mas sim a hipótese de um ‘outro mundo’, em que a ficção encontra o seu lugar. Mesmo se este outro mundo tem uma mínima base comum com o mundo de nossa experiência, assim se daria apenas para que pudesse saltar para o mundo estranho: ‘O leitor supera seu campo de referência por meio da constituição do campo de referência ficcional, i.e., pondo em jogo seu campo de referência como base para a interpretação, mas põe em jogo de forma interpretativa. O fato de cada interpretação partir do campo de referência do leitor, ao qual contudo sobrepuja, significa que o próprio campo de referência é questionado pelo ficcional. A interpretação do texto ficcional, i.e., a apreensão do campo de relação ficcional que nele se constitui, deve ser entendida como o questionamento do próprio campo de referência ou, para tomarmos um conceito da teoria formalista, como o seu estranhamento.
A partir destas considerações, é importante concluir que o impacto de determinados espetáculos, realizados pelo Arena e pelo Oficina, na conjuntura brasileira da década de 1960, explica-se, em grande parte, pela recepção e pelos debates suscitados por eles. A partir desta constatação, questiona-se: quais as perspectivas da relação entre processo histórico e a recepção estética? A estudiosa Karlheinz Stierle, ao se deparar com este tema, observou:
A auto-reflexividade da ficção não implica a sua autonomia quanto ao mundo real. O mundo da ficção e o mundo real se coordenam reciprocamente: o mundo se mostra como horizonte da ficção, a ficção, como horizonte do mundo. O âmbito da recepção dos textos ficcionais demarca-se na apreensão desta dupla perspectiva.
Já

Trabalho apresentado na disciplina Estética, com base em textos encontrados
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